quarta-feira, 13 de maio de 2009

UM POEMA DE WALT WHITMAN

CERTA VEZ NUMA CIDADE

Certa vez eu passei
por uma cidade bem populosa,
guardando no meu cérebro impressões
para futuro emprego,
com suas mostras, sua arquitetura,
costumes, tradições,
embora dessa cidade eu agora
me lembre apenas de uma mulher
que encontrei por acaso
e me deteve por amor de mim
e juntos estivemos
dia por dia e mais noite por noite
— posso afirmar que só me lembro mesmo
dessa mulher que se apegou a mim
apaixonadamente,
de quanta vez andamos, nos amamos,
de novo nos deixamos,
de novo ela a pegar-me pela mão,
e eu sem precisar ir:
vejo-a bem perto a meu lado
de tristes lábios trêmulos
calados.

(Do livro Folhas das folhas da relva, de Walt Whitman. Trad.: Geir Campos. São Paulo: Brasiliense, 1983.)

Um comentário:

  1. O Dicionário Aurélio define verso livre como "verso não metrificado, que não atende a outro critério senão as pausas espontâneas do movimento lírico". Podemos acrescentar que o verso livre também não obedece às normas tradicionais de ritmo e rimas, aproximando-se da fala coloquial e mesmo da prosa narrativa. Porém, ao contrário do que acontece numa novela ou romance, o poema em versos livres mantém linhas breves ou interrompidas, e não sequenciais, como na prosa. Ele não segue exigências de imitação (mímese) da realidade pela construção linear do enredo, dos personagens e das dimensões de tempo e espaço. O poema em versos livres, ainda que conte uma história, é mais livre, espontâneo, impreciso, segue uma concepção musical estranha à prosa, tem uma sintaxe própria e pode usar recursos como a metáfora ou a metonímia. Ou seja, ele não deixa de ser poesia, ainda que guarde algumas afinidades com a prosa.

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